Nos últimos anos, testemunhamos os efeitos do alarmante avanço das mudanças climáticas em todo o mundo ― causando uma série de impactos nos recursos hídricos, que destacam a urgência de compreendermos as consequências e agirmos o mais rápido possível para mitigá-las.

Segundo dados fornecidos pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), o ano de 2023 foi marcado pelas mais altas temperaturas já registradas na história do planeta, e no Brasil isso não foi diferente. Nosso país registrou uma média de temperatura que alcançou os 24,92°C ao longo do ano, representando um aumento de 0,69°C em relação à média histórica do período de 1991 a 2020.

Seguindo nesse contexto emergente, "A Água nos Une, o Clima nos Move" é a temática escolhida pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) para o Dia Mundial da Água deste ano, convidando a população a entender e discutir a conexão entre os recursos hídricos e as mudanças climáticas, bem como conscientizar sobre ações que podem ser adotadas pela sociedade, governos e empresas para mudarmos o cenário atual.

Mudanças climáticas e recursos hídricos: o que aprender com o Dia Mundial da Água

A escolha da ANA para a temática do Dia Mundial da Água tem como objetivo apresentar a estreita ligação entre dois elementos vitais para a nossa existência, ressaltando a necessidade de compreendermos como tal conexão tem impacto na biodiversidade, na manutenção dos ecossistemas e no futuro das próximas gerações.

Em suma, a água e o clima se interligam da seguinte maneira:

A água nos une

Os recursos hídricos têm um papel central na conexão entre as pessoas, unindo comunidades em torno de um elemento vital para a vida e o desenvolvimento, afinal,  a água está diretamente ligada ao progresso social, econômico e ambiental das nações, além de ser estabelecida pela própria Organização das Nações Unidas como um direito de todos: 

“Todos os povos, seja qual for o seu estádio de desenvolvimento e as suas condições sociais e econômicas, têm direito a ter acesso a água potável em quantidade e qualidade igual às suas necessidades básicas” | ONU - Março de 1977

Em vista disso, é primordial planejar e executar a gestão hídrica global de forma eficiente, buscando transformar os desafios da hidrologia que, às vezes, são imprevisíveis em benefícios que toda a sociedade pode aproveitar de maneira consciente. 

O clima nos move

Já o clima nos move na direção de ações, justamente porque suas mudanças afetam diretamente nossa vida, saúde e segurança, exigindo adaptação para lidar com seus impactos.

Recentemente, temos testemunhado um crescente interesse e preocupação global em relação às mudanças climáticas. Nesse cenário, muitos relatórios científicos vêm sendo realizados sobre o tema, como os elaborados pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), que apresentam os efeitos adversos desses fenômenos e alertam para os riscos iminentes que eles representam para o nosso planeta e para as futuras gerações.  

“O IPCC conclui que há mais de 50% de chance de a temperatura global atingir ou ultrapassar 1,5°C entre 2021 e 2040. E, especificamente em um cenário de emissões extremamente altas, o mundo pode atingir esse limiar ainda mais cedo – entre 2018 e 2037”

Um outro levantamento recente denominado Impacto da Mudança Climática nos Recursos Hídricos do Brasil que foi realizado pela própria ANA, também aponta que diante as incertezas decorrentes da mudança climática, a gestão dos recursos hídricos pode se tornar complexa, mas mostra que por meio de métodos técnicos, analíticos e de governança evoluídos, podemos superar qualquer adversidade.

“O ciclo hidrológico está diretamente vinculado às mudanças de temperatura da atmosfera e ao balanço de radiação de energia terrestre [...]. Espera-se, entre outras consequências, mudanças nos padrões da precipitação (alterações na intensidade e na variabilidade), o que poderá afetar significativamente a disponibilidade e a distribuição temporal da oferta hídrica nos rios.”

Como as mudanças climáticas e os recursos hídricos se conectam?

Como apontado, o ciclo da água, crucial para garantir a disponibilidade do recurso, é diretamente influenciado pelas condições climáticas.

Isso significa que as variações no clima alteram os padrões de chuva e podem desencadear eventos extremos ― desde enchentes e inundações a secas prolongadas ― o que resulta em uma escassez mais frequente da água e prejudica significativamente a disponibilidade de recursos hídricos, especialmente em países em desenvolvimento. 

Dessa forma, entramos em uma cadeia de consequências que afetam desde a população local até a produção de alimentos, já que as secas intensas impedem o avanço da produtividade agrícola, e as grandes tempestades também podem levar à quebra de safras, à diminuição de produção e, consequentemente, ao aumento dos preços.

Um outro lado dessa face ainda diz respeito à biodiversidade e aos ecossistemas. Do mesmo modo, o aumento das temperaturas e o comprometimento hidrológico alteram habitats muito mais rápido do que os animais podem se adaptar e, com isso, os organismos não conseguem mais sobreviver naquela área, fazendo com que outros seres vivos que dependiam deles também comecem a desaparecer.

Em resposta a esse “efeito dominó”, governos, organizações e a sociedade têm buscado adotar medidas e políticas para mitigar os impactos e promover uma transição para uma economia mais sustentável e resiliente ao clima. 

Qual o papel das indústrias e governos nesse cenário de incertezas hídricas?

A Agência Nacional de Águas (ANA) nos reforça sobre a importância de uma atuação proativa, impulsionando mudanças e adaptações para garantir a disponibilidade de recursos para as futuras gerações.

Nessa perspectiva, as indústrias têm um papel fundamental, uma vez que são grandes consumidoras de água e, portanto, têm a responsabilidade de implementar medidas que contribuam para a preservação desse recurso vital.

O tratamento e a reciclagem de efluentes são estratégias essenciais nesse sentido, uma vez que promovem a renovação do ciclo hídrico e evitam outros impactos ambientais que seriam decorrentes do descarte incorreto, fazendo com que a população local e as próprias empresas que operam na região possam atuar de maneira consciente e responsável, sem que haja a falta do recurso para a continuidade das suas atividades.

A cidade de Jundiaí, por exemplo, concedeu à iniciativa privada o tratamento do esgoto desde 1996. Sob gerenciamento da DAE Jundiaí, a Companhia Saneamento de Jundiaí trata o esgoto municipal, e a Tera Ambiental promove a transformação do principal resíduo deste processo e outros resíduos orgânicos em fertilizante. A cidade apresenta números importantes no saneamento, com  99,65% da população urbana e rural atendidas com redes de água e 98,81% com redes de esgoto, além disso, 100% do que é coletado passa por tratamento, sendo que a média no País é de 86,6% para ligação à rede geral de água e de 75,5% para descarte adequado de esgoto.

“Os números são resultado de administrações que tiveram como foco o planejamento e o investimento orçamentário correto, utilizando recursos para o que a população mais precisa. Acesso à água de qualidade e esgoto tratado contribuem para garantir mais saúde e qualidade de vida, em especial para as crianças”, avalia o prefeito de Jundiaí, Luiz Fernando Machado. 

Esse caso só mostra o quanto podemos contornar os desafios que nos cercam a respeito das mudanças climáticas e da disponibilidade hídrica. Em um trabalho conjunto, consciente e responsável é possível preservarmos o nosso bem mais precioso: a água!